quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

A História das Escolas de Filosofia à Maneira Clássica

Ao pesquisar comparativamente a História da Humanidade, tanto no Ocidente como no Oriente, encontramos a presença de uma forma específica de abordar o conhecimento sobre o ser humano, a sociedade, o mundo e o universo: a filosofia à maneira clássica.

A presença contínua junto às culturas humanas, sobrevivendo através da transmissão pedagógica aos altos e baixos das civilizações, assinala a primeira característica importante da filosofia à maneira clássica: ela é uma tradição.

A palavra tradição vem do latim traditio/traditionis que significa a ação de dar, entrega, transmissão e ensino. Como tradição, a filosofia à maneira clássica constitui-se num conjunto de idéias e conceitos universalmente aceitos que passa através das épocas, formando um núcleo integrador dos grandes eixos culturais – ciência, arte, política, religião.

Esta tradição filosófica não se apóia somente no trabalho individual dos filósofos, mas na existência de instituições integradas às sociedades humanas, duradouros centros geradores de importantes movimentos sociais e culturais.

Temos então outra característica da filosofia à maneira clássica: ela é uma tradição que se desenvolve e se atualiza através de uma instituição social: as Escolas de Filosofia à Maneira Clássica.

Uma terceira característica da filosofia à maneira clássica pode ser percebida observando-se o significado desse complemento “à maneira clássica”, que acompanha e qualifica o termo “filosofia”, que por si só designa a busca e o amor à sabedoria.

Embora essencialmente todas as escolas de filosofia à maneira clássica fundamentem-se no mesmo núcleo de idéias e conceitos universalmente aceitos, cada escola ocupou-se de atualizar a forma com que essas idéias eram aplicadas na sua época. Com isso, tornavam novamente úteis idéias atemporais e voltavam a impulsionar a particular forma cultural onde estavam inseridas. Para essas escolas não se tratava simplesmente de repetir o “clássico”, mas de atualizar o conhecimento humano de forma pedagógica é prática. Esse é o trabalho característico das Escolas de Filosofia à Maneira Clássica.

Portanto, o estudo da história das Escolas é um tema de grande interesse, pois nos permitirá compreender melhor a nossa própria cultura: suas origens, limitações e as soluções possíveis para os seus problemas.

Poderíamos focalizar o estudo da história das escolas de filosofia à maneira clássica em diversos momentos e lugares do passado, desde as civilizações pré-colombianas na América, até as antiqüíssimas culturas orientais da Índia e China, passando pelas tradições filosóficas do continente africano e europeu.

Mas, para dar um primeiro passo, vamos focalizar o período das mais importantes escolas gregas, suas herdeiras na época romana e o importante fenômeno do Renascimento, entre os séculos XIV e XVI.

Sem desconsiderar as suas antecessoras, podemos assinalar um marco de grande importância na trajetória das escolas de filosofia à maneira clássica ocidentais na Escola Pitagórica, fundada por Pitágoras de Samos, filósofo grego que nascem em Samos entre 570 a.C. e 571 a.C. e morreu em Mataponto entre 496 a.C. e 497 a.C.

A tradição pitagórica foi uma das matrizes de outra escola destacada, a Academia, fundada em Atenas por Platão no ano 387 a.C. Dando continuidade ao espírito pitagórico, Platão fundiu numa grande síntese as idéias dos seus antecessores gregos com a essência do pensamento oriental da Índia e Egito. Além de imortalizar através dos seus Diálogos a figura de Sócrates, exemplo vivo do ideal das escolas de filosofia à maneira clássica: um ser humano capaz de profunda reflexão sobre si mesmo e o mundo, afeito ao diálogo como método pedagógico e de investigação, capaz de viver e morrer defendendo o humanismo.

O legado destes grandes centros filosóficos gregos transmitiu-se através do trabalho de vários filósofos e escolas, entre as quais se pode destacar o Liceu, fundado em 335 a.C. por Aristóletes, discípulo de Platão e a escola neoplatônica de Plotino, filósofo que viveu entre 205 e 270, desenvolvendo sua escola a partir de 244 a.C. em Roma.

No entanto, a tradição das escolas de filosofia à maneira clássica não percorre a história sem percalços. No ano de 529 a.C. Justiniano, o Grande fecha a Academia de Platão, instituição com 900 anos de existência. Rompe o ecletismo cultural presente por muito tempo na cultura romana e restringe a liberdade de expressão não somente no campo filosófico, mas também no religioso e social. Essas investidas contra o livre pensamento e a tolerância religiosa lançaram sementes que na Idade Média floresceriam em fatos históricos lamentáveis como a Inquisição.

Após essa ruptura, que nos leva a refletir sobre o que acontece quando as escolas de filosofia são impedidas de existir e aportar educacionalmente para os rumos da sociedade, vemos o seu ressurgimento, impulsionando as realizações da época Renascentista, grande influenciadora da cultura atual. Novamente, a união de filósofos orientais, como Gemisto Pleton, e humanistas europeus como Marsílio Ficino resgatou a tradição das escolas de filosofia, revalorizou as obras de Platão e fundou a Academia neoplatônica florentina, inspirada na Academia de Atenas.

Continuaremos desenvolvendo o tema através de outras postagens, por enquanto esperamos ter despertado interesse pelo desafio de revitalizar o conceito da filosofia à maneira clássica e as suas escolas. Acreditamos que retomar essas idéias é uma contribuição importante para compreender nosso mundo e torná-lo melhor.

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